Sentada, junto ao balcão, matara-as. Uma e mais uma caíam às mãos de Sara. O seu mata-moscas não falhava. Aquele tempo chamava todo o tipo de insetos, mas os que mais a chateavam eram as moscas, animais porcos que a incomodavam sobremaneira. Mas, naquele dia sabia que tinha batido o seu record. Matara sete de uma só vez! Sentia as pernas a latejar, prestes a explodir. Era o resultado de já estar nas últimas semanas de gravidez. Mas, isso não a impedia de nada, subia e descia bancos, dançava pela casa para não perder o jeito, fazia longas caminhadas para manter a forma.
Sara não gostava de estar no café a servir clientes já bêbados e mulheres infelizes, mas não tinha outra hipótese. Enquanto estivesse grávida teria que servir às mesas. Tinha saudades de dançar e da liberdade que isso representava. Deixar-se envolver pela música e puxar o corpo até ao limite do equilíbrio. Sentia falta das luzes, do palco, das colegas competitivas. Sentia falta das coreografias atrevidas, de se despir ao som de músicas elétricas. Principalmente, sentia falta do varão - o seu ganha-pão. Até porque era uma mulher independente, sempre o fora desde muito nova. Saíra de casa do pai ainda miúda, e depois de se desentender com o companheiro mais velho, como gostava de dançar, arranjara emprego como stripper.
Agora, até que o bebé nascesse, estava limitada a ser empregada de mesa num café de quinta categoria. A clientela era péssima, mas foi o que conseguiu arranjar…. Estava muito calor, todo o seu corpo estava demasiado quente. Sara, depois do ataque das moscas, geria as poucas forças que tinha.
Elas continuavam à sua volta, as moscas. E por mais que as enxotasse, voltavam à carga. Já não aguentava mais, nem o calor, nem as moscas. Os clientes também eram difíceis. Tinha que aturar as conversas chatas de um bando de inúteis que passavam os dias inteiros a beber e a vomitar disparates. Diziam mal de todos os políticos e celebridades, mas não olhavam para eles próprios, nem ao que faziam com as suas próprias vidas.

Hoje era dia de jogo, e como tal, dia em que os ânimos no café poderiam dar problemas. O jogo começara há pouco tempo e já se ouviam os protestos dos clientes. Sara movimentava-se cada vez mais lentamente, todo o movimento era para ela um verdadeiro suplício. Atendia os clientes com muita dificuldade e pouco se apercebera da discussão que, entretanto, surgira entre dois clientes.
A cabeça a andar à volta, tudo a girar, gotas de suor a encharcarem-lhe o vestido, as veias a pulsar, os gritos dos clientes, o som das cadeiras a chiar, um golo marcado ao adversário e água, água que lhe jorrava das entranhas.
As moscas, muitas moscas a pousar na sua boca, a pousar na sua enorme barriga, a pousar nas águas vertidas no chão. Moscas que agora já não conseguia matar.
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